Pelos pubianos: depilação é mais higiênica ou pode trazer riscos de infecção na hora do sexo?
20/12/2025
(Foto: Reprodução) Novas cera de depilação prometem ser específicas para tipos de pelos e peles
A presença de pelos pubianos costuma ser associada à ideia de higiene, cuidado e até desejo sexual. Mas ter ou não pelos não define se a região íntima é mais limpa ou mais saudável. O que faz diferença, explicam especialistas ouvidos pelo g1, são os hábitos de higiene, o método escolhido para depilação e os cuidados com a pele antes e depois do procedimento.
“Essa é uma dúvida muito comum no consultório, e a resposta médica é clara: pelos pubianos não são sujeira”, afirma Raquel Magalhães, ginecologista do Hospital Nove de Julho, da Rede Américas. “Depilar ou não é uma escolha pessoal. Não existe certo ou errado quando falamos de higiene íntima.”
A decisão, no entanto, não é neutra. Dependendo do método usado, a depilação pode provocar irritações e microlesões que deixam a região mais vulnerável a infecções —um ponto de atenção especialmente na hora do sexo, quando há mais atrito e contato direto pele a pele.
prostooleh/Freepik
Pelos não são sinal de falta de higiene
Segundo especialistas ouvidas pelo g1, a higiene da região íntima depende de lavagem adequada e rotineira da vulva, e não da remoção dos pelos. “Pelos pubianos limpos não aumentam o risco de infecções por si só”, reforça Denise Joffily, ginecologista e mastologista do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) de São Paulo.
A associação entre ausência de pelos e limpeza, explicam as médicas, é muito mais cultural e estética do que científica. Do ponto de vista biológico, a biomédica especialista em saúde e estética Thamiris Ramos detalha que os pelos pubianos cumprem funções importantes.
"Eles ajudam a reduzir o atrito com roupas e durante a relação sexual, protegem a pele —que é mais sensível nessa região— e funcionam como uma barreira parcial contra micro-organismos", diz.
Por isso, quando são removidos, a pele fica mais exposta e vulnerável, exigindo cuidados adicionais.
Reprodução/Arquivo Pessoal
Depilação pode facilitar infecções?
Pode. Métodos como lâmina, cera e até laser podem provocar microlesões na pele, especialmente em uma região naturalmente mais úmida e sujeita a atrito.
“Esses microcortes e irritações podem facilitar infecções de pele, como foliculite, causadas pelas próprias bactérias da região, não pelo sexo em si”, explica a ginecologista Raquel Magalhães. Riscos adicionais aparecem quando há lâminas compartilhadas, ceras sem higiene adequada ou equipamentos mal esterilizados.
Denise Joffily acrescenta que essas pequenas lesões também podem aumentar a vulnerabilidade à entrada de vírus e fungos, como herpes simples e HPV, embora a depilação não seja a causa direta dessas infecções.
Freepik
Depilação aumenta o risco de ISTs?
Não há evidência de que remover os pelos pubianos, por si só, cause infecções sexualmente transmissíveis. No entanto, estudos observacionais mostram associação entre depilação genital frequente e maior incidência de algumas ISTs, especialmente quando há lesões na pele.
Um dos trabalhos mais citados sobre o tema, publicado na revista científica Sexually Transmitted Infections, analisou dados de cerca de 7.500 adultos nos Estados Unidos e encontrou maior prevalência de infecções como herpes e HPV entre pessoas que removiam os pelos pubianos com frequência —sem, no entanto, estabelecer uma relação direta de causa e efeito.
“Não é uma relação direta de causa e efeito”, explica Denise. “Mas a presença de microcortes pode facilitar a transmissão quando existe contato pele a pele com lesões ativas no parceiro.”
O método faz diferença?
Faz. De acordo com as especialistas, a depilação total está associada a maior risco de irritações e microlesões. A depilação parcial reduz esse risco, enquanto apenas aparar os pelos costuma ser a opção de menor impacto, por manter a barreira natural da pele.
Em mulheres com infecções íntimas recorrentes, a orientação médica pode mudar.
“Nesses casos, costumamos recomendar evitar a depilação total ou muito frequente, especialmente durante períodos de inflamação ativa”, diz Denise Joffily.
Também há situações em que a depilação deve ser evitada temporariamente, como na presença de infecções, feridas, dermatites, queimaduras ou sensibilidade intensa da pele.
depilação a laser
Freepik
A depilação altera pH ou microbiota?
A depilação não altera o pH vaginal nem a microbiota da vagina, esclarecem as médicas. O que pode ocorrer é uma alteração temporária da microbiota da pele da vulva e da virilha, especialmente após métodos mais agressivos.
“Algumas mulheres relatam mudança no odor da região externa, mas isso não tem relação com a vagina”, explica Raquel Magalhães. Essas alterações costumam ser leves e transitórias.
Estética x pressão
Para além da questão médica, a depilação íntima também envolve aspectos emocionais e sociais.
“Existe uma cobrança muito maior sobre as mulheres, como se a ausência de pelos fosse uma obrigação”, afirma Veruska Vasconcelos, coordenadora do serviço de psicologia do Hospital Alvorada Moema, da Rede Américas.
Segundo ela, quando não há diálogo com o parceiro, muitas decisões acabam sendo tomadas por medo de rejeição ou tentativa de corresponder a um padrão, e não por desejo próprio. “Isso aumenta a insegurança corporal e pode levar a escolhas pouco refletidas, inclusive ignorando desconfortos físicos”, diz.
A pornografia e as redes sociais também contribuem para a padronização de corpos sem pelos, o que, segundo a psicóloga, distorce a percepção do que é natural. “O problema não é a escolha pela depilação, mas quando ela deixa de ser opção e passa a ser vivida como obrigação.”
“Pelos ou sem pelos, o que importa é o cuidado”, resume Raquel Magalhães. “A saúde íntima não exige seguir um padrão.”