Mulher que morreu com filhos em incêndio sofria violência e tentou se separar do companheiro, diz irmã: 'Não aguentava mais'
01/12/2025
(Foto: Reprodução) Irmã de mulher morta em incêndio em comunidade do Recife relata histórico de agressões
A família de Isabele Gomes de Macedo, que morreu com os quatro filhos durante o incêndio na comunidade Icauã, na Zona Oeste do Recife, confirma a versão dos vizinhos de que ela era agredida pelo companheiro. Suspeito do crime, o homem, identificado apenas como Aguinaldo, foi preso em flagrante e levado a um hospital após ser linchado por moradores (saiba mais abaixo).
Em entrevista à TV Globo, a irmã da vítima, Jaqueline Gomes, contou que a mulher, de 40 anos, ligava com frequência para os familiares para falar sobre a violência que sofria e tentou se separar recentemente (veja vídeo acima).
"Muitas das vezes ela ligava direto para minha mãe dizendo: 'mainha, eu não estou aguentando mais. Esse homem chega bicado e fica me agredindo aqui com os meninos. Os meninos ficam tudo traumatizados, chorando'. E muitas das vezes a minha mãe a convidou para morar na casa dela, porque a casa da minha mãe estava desocupada, várias vezes minha mãe insistindo para ela sair daquele lugar", contou.
✅ Receba no WhatsApp as notícias do g1 PE
O incêndio, ocorrido na tarde do sábado (29), atingiu 20 das cerca de 30 casas da comunidade, segundo a Defesa Civil do Recife. A localidade, que fica no bairro da Caxangá, existe há 10 anos e é uma ocupação do Movimento Urbano dos Trabalhadores Sem-Teto (Must).
Além de Isabele, morreram no incêndio os quatro filhos dela: Aline, de 7 anos; Adriel, de 4; Aguinaldo, de 3; e Ariel, de 1.
Jaqueline contou que soube por moradores que Guel chegou bêbado e agressivo na sexta-feira (28), quando a discussão com a irmã dela começou. Os corpos das vítimas permanecem no Instituto de Medicina Legal (IML) do Recife, localizado no bairro de Santo Amaro, na área Central da cidade.
Segundo a Secretaria de Defesa Social (SDS), eles foram periciados e serão liberados após a realização de exames de DNA. Além disso, o local do incêndio também passou por perícia. O laudo será elaborado pela Polícia Científica e, quando for concluído, encaminhado ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que investiga o caso.
"Estamos com dificuldade nos documentos, e também está muito dificultoso para o perito reconhecer até a identificação da causa da morte. E está muito horrível, a gente está fazendo de tudo para liberar esse corpo amanhã, em nome de Jesus, e acabar esse sofrimento porque foi um pedaço de mim", explicou.
Ainda de acordo com Jaqueline, o perito informou à família que encontrou uma marca na cabeça de uma das crianças. De acordo com ela, a filha mais velha de Isabely, Aline, era autista.
"A criança estava com uma pancada na cabeça e eu tenho certeza que ele agrediu a criança. (...) Ele não pensou nos filhos dele, não pensou em nada, apenas chegou e fez. E foi premeditado porque eu fiquei sabendo que eles tinham se separado. Na sexta, ele levou um bujão de gás, levou os troços deles velhos e, depois, voltou para infernizar a vida da minha irmã mais ainda, arengando por causa de um pedaço de tábua", contou.
Incêndio que deixou cinco mortos na Zona Oeste do Recife atingiu 20 casas, segundo a Defesa Civil
Reprodução/WhatsApp
Assistência à comunidade
Neste domingo (30), a prefeitura do Recife e organizações da sociedade civil realizaram diversos serviços de atendimento para as famílias que moram na comunidade e foram impactadas pelo incêndio, além de recolher doações.
A dona de casa Marcilene Maria de Santana, que mora com a neta na comunidade, passou a noite na calçada e contou sobre o sentimento de tristeza após a tragédia.
"Tem muitos que perderam tudo, pessoas que estão sem nada, então, para nós, essa ajuda é muito gratificante. Pessoas que não têm nada e, principalmente, quem perdeu a vida, é mais triste ainda", contou.
Taciana da Silva, que mora com os quatro filhos na comunidade, perdeu a casa no incêndio e disse não saber como seguirá após perder os pertences.
"Tem os moradores, que moram aqui nessa parte da frente, que estão cedendo para a gente se molhar, trocar de roupa porque está tudo interditado. A gente está contando com essa ajuda que está chegando. Por enquanto, a gente está esperando para ver como vai fazer para a gente poder retomar o lugar da gente", disse.
De acordo com a prefeitura, a Unidade de Saúde da Família Mais (USF) Olinto de Oliveira, que cobre a comunidade do Icauã, reuniu profissionais de medicina, enfermagem, saúde mental, assistência social, farmácia e agente comunitário de saúde para prestar assistência no local neste domingo (30).
Entre as necessidades levantadas, está a reposição de medicamentos e receituários de pacientes crônicos que foram pedidos, além do encaminhamento para atendimento em serviços de saúde mental. O trabalho prosseguirá pelos próximos dias, segundo a prefeitura.
Ao todo, 55 pessoas foram atendidas, incluindo crianças, idosos e uma gestante, com consulta clínica e aferição de sinais vitais, dispensação de medicamentos e materiais de curativo.
O incêndio
Mulher e quatro crianças morrem durante incêndio em comunidade no Recife; homem é detido
A comunidade Icauã é uma ocupação do Movimento Urbano dos Trabalhadores Sem-Teto (Must) e fica no bairro da Caxangá, nas imediações de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
O Corpo de Bombeiros informou que foi acionado para controlar o incêndio às 12h20 e disse que enviou oito viaturas, sendo três de combate a incêndio, uma de salvamento, uma de resgate e outras três de comando operacional. Ao todo, 26 militares estavam envolvidos na operação.
Imagens registradas no local mostram as chamas se espalhando rapidamente entre os barracos de madeira (veja vídeo acima). Segundo os bombeiros, o fogo foi controlado por volta das 16h30.
Outros vídeos mostram o momento em que o homem foi detido pela Polícia Militar. De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS), ele estava sendo linchado por moradores quando as forças de segurança chegaram ao local da ocorrência. Ele foi preso em flagrante e levado a um hospital.
VÍDEOS: mais vistos de Pernambuco nos últimos 7 dias
.jpg)
