Denúncia que levou à operação na Penha usou mensagens de WhatsApp e vídeos de drones como prova
30/10/2025
(Foto: Reprodução) Investigação revela atuação do Comando Vermelho no RJ
A denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) que resultou na megaoperação da última terça-feira (28), nos complexos da Penha e do Alemão, revela como mensagens de WhatsApp e vídeos de drones foram usados para comprovar a estrutura e o funcionamento do Comando Vermelho (CV) na capital fluminense.
O documento do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ), elaborado a partir de uma investigação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), acusa 69 pessoas de associação para o tráfico de drogas e descreve um organograma da facção com funções definidas para cada integrante.
Segundo a investigação, Edgar Alves de Andrade, o Doca ou Urso, é apontado como principal liderança do CV no Complexo da Penha e em comunidades como Gardênia Azul, Cesar Maia, Juramento, Quitungo e Alemão — algumas delas recentemente tomadas de grupos paramilitares.
Doca teria sob seu comando uma cadeia hierárquica rígida, com ordens diretas e punições severas a quem desobedecesse às determinações.
Por conta de seu papel de liderança, Doca tem sua residência fortemente vigiada por seguranças armados de fuzis, como mostram imagens que constam no relatório final da DRE.
Ao lado de Doca, no 1º escalão, estão Pedro Paulo Guedes, o Pedro Bala, e Carlos Costa Neves, o Gardenal, apontados como gerentes-gerais do tráfico na região. Washington Cesar Braga da Silva, o Grandão, também aparece entre os homens de confiança de Doca.
Em mensagens interceptadas pelos investigadores, Grandão adverte os demais integrantes do grupo sobre a necessidade de autorização para execuções.
“Bagulho não é com nós. Vamos monitorar apenas, meus amigos. Ninguém dá tiro sem ordem do Doca ou do Bala. Vamos pegar a visão”, diz um dos trechos reproduzidos na denúncia.
A denúncia também afirma que, além de gerente geral, Gardenal também é responsável por liderar a expansão violenta e criminosa do Comando Vermelho na região da Grande Jacarepaguá, em conjunto com Doca e Juan Breno Malta Ramos, o BMW.
Numa troca de mensagens com Grandão, Gardenal discute a utilização de drones contra as forças de segurança.
Gardenal: “A gente tem que se adequar à tecnologia, entendeu?”
Grandão: “O meu não é noturno.”
Gardenal: “É, o BX vai comprar o noturno. Estamos esperando aí comprar.”
Grandão: “O meu não é noturno, não, cara. Nós temos que comprar o noturno.”
Durante a operação, os traficantes do Comando Vermelho usaram um drone para jogar bombas contra os policiais.
O criminoso Gadernal transmite por videochamada a tortura a um homem arrastado pelas ruas da comunidade
Reprodução
Segundo a denúncia do MP, Doca, Gardenal e Grandão utilizam os grupos de WhatsApp para emitir ordens de caráter geral e orientações sobre a comercialização de drogas para os subordinados, como também para determinar as escalas de plantões nos pontos de comercialização de drogas, as “bocas de fumo”, nos “pontos de visão” (monitoramento) e nos “pontos de contenção” (segurança armada).
Nos grupos também são tratados outros temas como veículos roubados, monitoramento de viaturas policiais, contabilidade das vendas de drogas e até execução de indivíduos que contrariem seus interesses criminosos. Numa conversa por WhatsApp, Gardenal determina a execução de um “vapor” por ele estar “perdendo” carregamento de droga.
Gardenal: “O vapor mais derramado, o gerente nós vai matar agora na frente de geral. Se o Bacurau aparecer, nós vamos mandar geral brotar aqui, o gerente vai executar ele na frente de geral.”
A polícia também descobriu que Gardenal mantinha um chat privado em uma 2ª linha telefônica, que funcionava como backup de mensagens.
Nele, envia seus contatos telefônicos e encaminha fotografias de diversos veículos roubados, com sua autorização. As fotos de veículos constam também em chats privados com os ladrões de carros, onde eles oferecem os veículos para Gardenal por valores muito abaixo do mercado.
A denúncia aponta ainda que BMW exerce a função de gerente do tráfico na Gardênia Azul e lidera o grupo “Sombra”, responsável por ações de expansão da facção na Grande Jacarepaguá. Ele também tem a função de treinador de soldados do tráfico, usando de sua larga experiência no emprego de armas de grosso calibre para instruir mais criminosos a serviço do Comando Vermelho.
De acordo com a investigação, a recente ascensão de BMW na quadrilha permitiu a ele possuir o controle de diversas câmeras de monitoramento no Complexo da Penha e na comunidade Gardênia, inclusive, algumas com sensor de movimentação.
Há indícios, diz a denúncia, de que BMW utilize empresas de fachada para lavagem de dinheiro.
O MPRJ afirma que a análise das conversas e dos registros eletrônicos foi essencial para mapear o funcionamento da facção e subsidiar os pedidos de prisão que resultaram na operação — considerada a mais letal da história do RJ.
Imagens mostram traficantes fortemente armados antes de megaoperação nos complexos do Alemão e Penha
Reprodução TV Globo