Clínica mantinha pessoas em cárcere privado por encomenda de terceiros em Goiânia; mãe e irmã de vítima foram presas
15/08/2025
(Foto: Reprodução) Polícia prende seis por sequestro de mulher mantida em clínica ilegal, em Goiânia
A Polícia de Goiás prendeu seis pessoas que sequestraram uma mulher e a mantiveram numa clínica ilegal, em Goiânia. A mãe e a irmã dela estão entre os presos.
A câmera registra o momento em que a vítima, de 25 anos, é cercada na garagem por cinco pessoas, entre elas a própria irmã. A mulher é retirada do carro à força e colocada num outro carro que estava na rua. O caso foi em maio, em Aparecida de Goiânia.
Minutos antes do sequestro, a mulher havia ligado para o marido dizendo que a mãe e a irmã — com quem ela tem conflitos — estavam rondando o prédio. À noite, quando ele chegou em casa e não encontrou a esposa, procurou imediatamente a polícia.
Os policiais descobriram que a mãe e a irmã tinham internado a vítima em um espaço terapêutico que se identifica como clínica de recuperação de dependentes químicos, em Goiânia. Mas as investigações mostram que a mulher nunca foi usuária de drogas.
"O que se evidenciou é que ela teve a liberdade dela cerceada pela mãe de fato e pela irmã, que inclusive assina o contrato com a clínica, porque elas não queriam que ela comparecesse a uma audiência, no bojo judicial, envolvendo patrimônio da família. E a audiência estava marcada para o dia seguinte a essa internação compulsória", destaca a delegada Gabriela Adas.
Clínica mantinha pessoas em cárcere privado por encomenda de terceiros em Goiânia
Reprodução/TV Globo
A vítima foi resgatada e contou que outras mulheres também estavam internadas compulsoriamente.
Com autorização da Justiça, a polícia foi até lá. Os investigadores afirmam que, desde 2024, o local estava sem autorização para funcionar como espaço terapêutico e não poderia atender como uma clínica de recuperação por não ter médico psiquiatra, como determina o Conselho Federal de Medicina.
Nesta quinta-feira (14), a Justiça ordenou a suspensão das atividades.
Das 45 mulheres internadas, metade relatou ter sido levada à revelia. A polícia afirma que, nos prontuários, não havia nenhum documento que amparasse a internação. Outra vítima, que pediu para não ser identificada, disse que as irmãs pagaram pela internação sem consultá-la:
“Quando eu vi, bateram na minha porta, um pegou do lado, outro do outro. Não dei tchau nem para os meus cachorros. Não tive chance nem de falar não: 'vamos e pronto'".
Seis pessoas estão presas: o dono da clínica, Leonardo Carneiro de Abreu Vieira; o irmão dele, Christiano Carneiro de Abreu Vieira; a enfermeira Rosane de Fátima Oliveira; e Andiara Silva da Costa, que ajuda a levar as vítimas até a clínica.
Eles respondem por associação criminosa, cárcere privado, sequestro e lesão corporal.
A mãe da primeira vítima mostrada na reportagem, Eliane de Paula Souza, e a filha dela, Isabela de Paula Silva, respondem por sequestro e furto.
Em junho, o dono do espaço terapêutico e o irmão já tinham sido indiciados pela polícia em outro caso envolvendo cárcere privado.
Uma mulher conta que foi levada da porta de casa por funcionários da clínica ilegal, a mando de um ex-namorado.
"Eles simplesmente pegaram de um lado e pegaram do outro lado e já começaram a me forçar a entrar lá dentro. Inclusive, eu tenho laudo do IML que comprova as agressões que sofri por esse grupo de resgate, que é como eles chamam essas pessoas que vão para fazer internação compulsória", relata a empresária, Niurica Ribeiro.
O advogado de Rosane Oliveira e de Leonardo e Christiano Carneiro afirmou que eles não cometeram os crimes. E que o espaço terapêutico não viola o direito de ir e vir e não faz internações — apenas permite que os pacientes durmam no local, se quiserem.
Não foi possível contato com as defesas das outras presas.